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SUSTENTABILIDADE


Passeando aos domingos pela lagoa da Pampulha em Belo Horizonte constantemente me deparo com situações de agressão à natureza feita por pessoas que estão ali exatamente para “curtir” a natureza. Não percebem o problema que resulta dessa sua atitude porque se acostumaram a desprezar no ambiente o que consideram como descartável.

Esse problema é de grande proporção e evidentemente tem como principais responsáveis não as pessoas individualmente, mas os governos e as empresas cuja capacidade de agressão ao ambiente é incomparavelmente maior. Contudo é o somatório das atitudes individuais que está por trás das ações empresariais e governamentais, que afinal de contas são feitas de pessoas. Assim, sem que esse problema se torne de toda e qualquer pessoa, os governos e as empresas não mudarão também.

Mas porque tudo está assim? Nos últimos 200 anos de desenvolvimento econômico a população mundial cresceu, aproximadamente, sete vezes (de 1 bilhão para 7 bilhões de habitantes) e a economia (PIB) aumentou 50 vezes. Porém, esse crescimento da riqueza se deu a custa da pauperização do planeta (1).

Como “o mais provável é que a Terra tenha mais de 2 bilhões de habitantes nos próximos quarenta anos e uma economia quatro vezes maior” (1) a nossa sobrevivência e das gerações futuras está em risco. Por isso a ONU propôs em 1987 a necessidade de um esforço conjunto e o chamou de sustentabilidade. Ela seria ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações (2).

Qual a nossa responsabilidade como cristãos? Quais, na nossa opinião, são as questões determinantes para conseguir-se o resultado esperado da sustentabilidade?

A razão profunda e que, do ponto de vista cristão, está na raiz do problema ambiental é que a nossa sociedade está cada dia mais distanciada do transcendente e o homem “moderno” perdeu a consciência de ser criatura, passando a sentir-se dono e não “irmão” de tudo o que existe e que como ele foi criado (3).

Como conseqüência dessa visão do homem a ciência e a técnica passam a usar da natureza destruindo-a levando a situação descrita acima. Para que haja uma reversão desse quadro é necessária uma nova visão da ciência onde os cientistas usem “as suas pesquisas e técnicas em serviço da humanidade, sabendo subordiná-las aos princípios e valores morais que respeitam e realizam na sua plenitude a dignidade do homem” (3).

Essa percepção de si, em que não há mais espaço para o transcendente fez com a sustentabilidade muitas vezes seja reduzida a fato exclusivamente econômico. Ainda que este aspecto seja fundamental, pois certamente foi o desenvolvimento técnico e econômico o principal responsável pelo risco em que estamos, a sua reversão não ocorrerá somente baseada na busca de um lucro “limpo”. Porque? Porque “qualquer desenvolvimento digno deste nome deve ser integral, ou seja, deve orientar-se para o verdadeiro bem de cada pessoa e de toda pessoa” (3). “Os empresários e responsáveis pelas entidades públicas devem ter em conta não só o legítimo lucro, mas também o bem comum” (3).

Um outro aspecto a ser considerado é que “a atual crise ambiental atinge particularmente os mais pobres, seja porque vivem nas terras sujeitas à erosão e à desertificação, ou porque envolvidos em conflitos armados ou ainda constrangidos a migrações forçadas, seja porque não dispõem dos meios econômicos e tecnológicos para proteger-se das calamidades” (3). Esse é outro desafio para nós cristãos e que se torna um dever profeticamente denunciá-lo, buscando que o resultado da sustentabilidade seja para todos e em especial para os mais necessitados do nosso planeta.

A nossa responsabilidade de cristãos é contribuir para que a nossa sociedade recupere uma nova consciência de si fundamentada na relação com o transcendente. Esta responsabilidade, além de ser especifica dos cristãos, é urgente porque sem ela qualquer busca, como a que hoje os movimentos sociais estão fazendo em torno do tema da sustentabilidade, não trará os resultados que se espera e retornará como um novo problema. Isso ocorrerá porque, como nos indica a Doutrina Social Cristã, qualquer desenvolvimento deve ser integral para ser para todo o homem e todos os homens (3).

Para que essa contribuição seja efetiva deve ser traduzida em uma nova consciência de si e do mundo e em um novo modo de viver . “Os graves problemas ecológicos exigem uma efetiva mudança de mentalidade que induza a adotar novos estilos de vida, nos quais a busca do verdadeiro, do belo e do bom, e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções de consumo, da poupança e do investimento”. (3)

Por isso, faz parte dessa responsabilidade não aceitar a redução da sustentabilidade ao seu aspecto econômico perdendo sua perspectiva de totalidade. Toda vez que a ciência e a técnica esqueceram do transcendente levaram também a um empobrecimento humano. Somente uma sustentabilidade que traga dentro dela a nossa contribuição cristã terá SUSTENTAÇÃO.

Espero que a campanha da fraternidade de 2011 cujo tema é justamente “FRATERNIDADE E VIDA NO PLANETA” nos conduz não somente a uma reflexão, mas a ações nos âmbitos do trabalho, da empresa e da política que envolvam as nossas comunidades a responder com urgência, pois como diz o lema da campanha: “A Criação Geme em Dores de parto” (Rm 8,22).

Referências
1. ALVES, J. E. D. A Terra no limite. Veja: sustentabilidade. São Paulo. Editora Abril, Ano 43, Número 2196, páginas 24 a 27, dezembro de 2011. Edição especial.
2. MELO, C. 10 mitos sobre a sustentabilidade. Veja: sustentabilidade. São Paulo. Editora Abril, Ano 43, Número 2196, páginas 42 a 44, dezembro de 2011. Edição especial.
3. PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ’. Salvaguardar o ambiente. In Compêndio da Doutrina social da Igreja. Tradução Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005, páginas 255- 272. Título original: Compendio della dottrina sociale della Chiesa.