Oslo, capital da Noruega, viveu na sexta-feira (22/07/2011) um trauma social de grande magnitude, 76 pessoas foram mortas em dois ataques terroristas quase simultâneos. Uma explosão no prédio do governo em Oslo e um ataque a um grupo de jovens na ilha Utoya a 40 quilômetros da capital. O único preso justificou através de um discurso racista e de ultra-direita, mas que no fundo revela uma mente perturbada.
No sábado percorreu o noticiário em todo o mundo a informação de que a cantora inglesa Amy Winehouse fora encontrada morta em sua casa. A causa mortis até hoje permanece não esclarecida, mas o mundo todo concluiu que é o resultado da sua vida, que foi envolta em álcool e drogas e que, ultimamente, apesar da sua noticiada tentativa de recuperação, resultou na impossibilidade em dar sequencia a sua carreira de cantora. O que mais chamou a atenção de todos era de que se tratava de uma morte “esperada”, quase que um “destino” pré-anunciado.
As revistas do final de semana trouxeram uma nova enxurrada de notícias sobre corrupção no governo brasileiro. A revista Época desta semana (nº 688) traz um conjunto de informações sobre um esquema até então desconhecido de propinas na Agência Nacional de Petróleo. Neste caso o que tem chamado a atenção é a inércia do povo brasileiro em se indignar publicamente com esta enxurrada de notícias sobre o mau uso da administração pública.
Os dois primeiros fatos nos colocam diante desse fenômeno que mais interpela a nossa vida, o seu fim, a morte. Na Noruega pessoas que foram fazer uma atividade de trabalho ou social acabaram sendo atingidas pela decisão de uma pessoa, o que no mínimo nos coloca diante do fato que existe uma violência no nosso dia-a-dia, que a gente se esquece dela, mas ela sempre está a espreita a nossa espera, como no caso em Realengo no Rio de Janeiro. O que leva essas pessoas, o criminoso de Oslo e do Rio, a uma selvageria tão grande? O fato que essa selvageria somente aumentou na medida que nos tornamos mais civilizados?
Já a morte da cantora Amy nos coloca diante da morte “esperada”, “procurada” por alguém que aparentemente tem tudo o que maioria das pessoas querem, sucesso e dinheiro, mas que se acaba nas drogas que, independente de qualquer discussão, destrói a pessoa e de algum modo a tira progressivamente da realidade. A morte na quase totalidade dessas situações vem quase como algo esperado, um só podia dar nisso. Mas o que faz com que alguém com essa sensibilidade destrua a si mesmo deste modo, o que lhes falta? Ela morreu com 27 anos como aconteceu com outros artistas como Janis Joplin e Jimmy Hendrix e do mesmo modo. O que lhes faltou?
Mas porque coloquei junto o terceiro assunto, a inércia da maioria dos brasileiros diante desse desvendar de corrupção na administração pública e na política? O motivo pelo qual ela acontece foi um dos tema da semana passada no twitter. Porque?
Para mim essa inércia é, de certo modo, também por uma morte, não física, mas pessoal e social. A maneira como tantos entre nós vivem, um ceticismo (nada vale a pena, então qualquer coisa se justifica) quando o assunto é política e políticos que pode-se cortar com a faca de tão denso que é, ocasiona uma imobilidade, um não mover-se, um não tocar-se, que assemelha-se a uma morte em vida.
Muita gente decidiu-se por apenas votar e, assim mesmo, somente porque é obrigatório. Tudo bem se a conseqüência em nossas vidas não fosse, de algum modo, a morte de uma espera que todos temos por algo que venha sanar as nossas feridas, os nossos desejos não respondidos.
Lendo o editorial da revista Passos deste mês (veja) fiquei muito tocado pela provocação feita por Julian Carron, responsável do Movimento Eclesial de Comunhão e Libertação, relatada neste artigo. “De vez em quando precisamos perguntar: o que quer dizer incidência histórica? O que move interiormente o homem?”. O editorial continua: “ o primeiro modo de não levá-lo a sério é pensar que se trata de uma pergunta talhada para certos momentos determinados”, como as eleições. O artigo é completado com o provocação ainda maior: “as forças que movem a história são as mesmas que tornam o homem feliz”, não existe diferença entre o que eu espero para mim e o que eu espero para a sociedade onde vivo.
Viver em meio a um ceticismo assim, aceitar que a corrupção deslavada que existe na nossa política possa nos colocar fora da vida é dar a ela uma arma como a do terrorista norueguês e aceitar a nossa morte, enquanto perda do desejo de bem para mim e para todos que nos constitui enquanto pessoas, enquanto humanidade!