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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

POLÍTICA? O QUE É ISSO?

A postagem da semana passada deixou uma porta aberta sobre como deve ser a relação da gestão com a política. Finalizamos dizendo que é necessário que as decisões políticas sejam tomadas não como se fossem um puro jogo de interesses, mas aquilo que verdadeiramente a POLÍTICA É UM TRABALHO EM FUNÇÃO DO BEM COMUM.

Para apresentar como vemos que deve ser essa relação gestão-política vou tomar como ponto de partida e exemplo real de como ela acontece a votação no Congresso Nacional do valor do salário mínimo.

Na semana passada a Presidenta Dilma Roussef teve sua primeira vitória no Congresso Nacional quando conseguiu os votos necessários para estabelecer o novo valor do salário mínimo em R$ 545.00. Para tanto contou com o apoio integral do PMDB, perdeu alguns votos no PT e outros aliados, ganhou alguns poucos votos na oposição. Será que foi o interesse pelo bem comum o motivo do voto dos 361 deputados que apoiaram a proposta do governo (ler aqui)?
 
Observando alguns fatos noticiados na imprensa relacionados a essa votação podemos perceber como tem se dado a relação entre política e gestão:
- O governo aumentou 441%  a liberação de emendas às vésperas da votação (leia aqui).
- Governo poderá retribuir apoio do PMDB com cargos na Caixa (leia aqui).

Certamente não foi o interesse público o que motivou os votos a favor dos partidos da base do governo? E os votos contrários dos partidos de oposição que motivação teriam?

Normalmente para que os interesses da gestão, legítimos ou não, consigam o apoio necessário, os governos usam de dinheiro público (como emendas parlamentares) ou de cargos (em última instância recurso financeiro) para obtê-lo. A oposição faz somente o papel do contraditório, mas não acrescenta nada a discussão. Afinal seria ou não possível o salário mínimo a 600 reais?

Este foi somente um jogo de cena ou existe uma análise séria se contrapondo a argumentação econômica do governo. Não é possível depreender nada do "significativo debate que ocorre nessas horas". Como fica claro esse debate é feito de acordo com quem está ou não no poder, pois os que defenderam agora o salário a 545, são exatamente os mesmos que atacaram no passado os que agora querem o salário a 600 por causa de um aumento menor que deram naquela época.

A FRASE PARECE CONFUSA MAS NÃO É, CONFUSO É O MODO COMO NOSSOS POLÍTICOS AGEM.

Política como busca da construção do bem comum tem passado longe deste debate. Porque é evidente que quanto maior o salário mínimo, maior o benefício para os que o recebem. Mas se esse aumento hoje ocasionasse os distúrbios econômicos que se diz que ocasionaria é evidente que isso não seria o melhor em função do bem comum.

Mas o que é o bem comum?

Buscaremos na Doutrina Social Cristã (DSC) uma compreensão do seu significado: "o bem comum não consiste na simples soma dos bens particulares de cada sujeito do corpo social. Sendo de todos e de cada um, é e permanece comum, porque indivisível e porque somente juntos é possível alcançá-lo, aumentá-lo e conservá-lo, também em vista do futuro (1)."

A busca do bem comum está vinculado a própria característica do sujeito da ação social, um ser em relação: "a pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma, prescindindo do seu ser “com” e pelos “outros”. Nenhuma forma expressiva da sociabilidade pode evitar a interrogação sobre o próprio bem comum, que é constitutivo do seu significado e autêntica razão do seu ser da sua própria subsistência (1)."

Sendo assim, esta regra vale ainda mais para essa ação social que é a política cuja única finalidade seria buscar aquilo que beneficiará a todos." A responsabilidade de perseguir o bem comum compete não só às pessoas consideradas individualmente, mas também ao Estado, pois o bem comum é a razão de ser da autoridade política (1)."

Assim, uma política para que seja verdadeira e traga bem ao povo todo e a cada pessoa do povo, não pode NUNCA ser um jogo de interesses. Ainda que a ação da gestão seja justa (como pode ser o caso do salário mínimo) usar da política como uma troca mais cedo ou mais tarde trará consequências.

Certamente essa troca espúria entre a gestão e a política que ocorre em muitos governos no Brasil, como comentei em outra postagem, é um mau exemplo e faz com que hoje os jovens na maior parte dos casos não acreditem e, principalmente, não tenham nenhum interesse na política. As consequências para  o país são um desatre muito maior que as consequências de qualquer valor de salário mínimo.

Para isso é preciso que os gestores públicos entendam que acima de qualquer interesse, mesmo que como intenção em função do povo, está o bem das pessoas todas e cada uma, e que isto não se mede somente com a sua situação econômica, mas também quanto mais é um sujeito social, consciente e participativo.

ESSA É POLÍTICA QUE BUSCAMOS CONTAMOS COM A SUA PARTICIPAÇÃO PARA CAMINHAR MAIS NESSA TRILHA.


1) PONTIFÍCIO CONSELHO "JUSTIÇA E PAZ". Compêndio da Doutrina Social. Pag. 101-103. São Paulo. Paulinas, 2005.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

GOVERNAR É PRECISO, PLANEJAR TAMBÉM É PRECISO

Peguei um taxi estes dias e nossa conversa sugeriu essa reflexão. Passávamos por um viaduto e ele comentou como eram bacanas as mudanças feitas em BH na avenida Antonio Carlos, mas que apesar delas o número de carros só aumenta e assim o trânsito continua ruim. Realmente a observação dele me levou a refletir que não é possível governar sem planejar.

Governar implica tomada de decisões, avaliar e priorizar problemas, considerar o que ocorrerá a médio e longo prazo. Como no caso citado acima, quanto tempo as reformas feitas na avenida Antonio Carlos responderão aos problemas de trânsito se houve um aumento do número de carros concomitante?

Para responder a isso um governo deve usar as ferramentas da gestão como ocorreu nos últimos governos de Minas Gerais. O que aconteceu nesses governos foi uma relação positiva entre política e uma gestão competente.

O que eles indicam é que para governar é necessário equilibrar os componentes político e gestão.

Durante esse início do governo federal este tema tem sido recorrente de um modo que não se entende como deve acontecer essa relação.

Lula era político, Dilma é gestora, ela conseguirá o sucesso que ele teve? Como um bom gestor vai se relacionar com os políticos, sendo que ela necessitará desse relacionamento com eles para governar. Esse debate mostra que essa relação não está totalmente clara.

O problema é que não é possível uma boa gestão sem uma boa política e vice versa. O tema da gestão entrou na política. Mas qual a relação saudável entre elas? No caso das políticas públicas, política e gestão são inseparáveis.

Essa discussão está frequentemente presente nos níveis gerenciais de governos no Brasil. Esta relação é vista como antagônica, ou seja, a política sempre atrapalha um bom governo no sentido de uma boa gestão pública. Os técnicos de ministérios e secretarias habitualmente não vêem os políticos com bons olhos, na melhor das hipóteses devem ser controlados.

Já os políticos na maior parte dos casos vêem os gestores como um mal a ser tolerado para dar ao governo um ar de modernidade, pois hoje é um consenso na sociedade brasileira que a gestão pública necessita ganhar uma dimensão empresarial.

Mas de onde vem esse aparente  e não real antagonismo?

Da realidade dos nossos governos que quase diariamente dão maus exemplos e recolocam o problema. As recorrentes enchentes, a desse ano no Rio de Janeiro, mais todas as anteriores em diferentes estados mostraram carência de gestão associada com politicagem que permitiu a construção irregular e por isso de risco.

Outro exemplo é a política de segurança no país feita de modo quase amadorístico e com envolvimento daqueles que deviam resolver com aqueles que ocasionam os problemas.

Sendo assim esse antogonismo nasce ou de uma má política ou uma de uma má gestão, como ocorreram nos exemplos acima.

Há algumas semanas atrás a revista VEJA (leia aqui) trouxe uma reportagem que mostrava como os números foram distorcidos no governo Lula. O interessante é que os números verdadeiros não eram ruins. Porque distorcê-los então? Porque havia uma sucessão presidencial em discussão, para ganhar a eleição, ou seja, um motivo estritamente político. Aqui está um raciocínio que introduz muito mal no campo político, já que o objetivo é ganhar eleições como se fosse um jogo, o bem público fica sempre em segundo lugar.

A presidente Dilma foi eleita pela ação política de Lula, mas com fama de ser uma boa gestora. Nesses quarenta dias iniciais não é possível saber qual será o seu resultado evidentemente, mas se não colocar a gestão de qualidade como uma prioridade política o resultado será de algum modo negativo.

Seria muito interessante se seguisse o exemplo mineiro. Para isso é necessário que as decisões políticas sejam tomadas não como se fosse um puro jogo de interesses, mas aquilo que verdadeiramente a POLÍTICA É, UM TRABALHO EM FUNÇÃO DO BEM COMUM.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

LIBERDADE OU AH! SE O MURICY NÃO TIVESSE DESISTIDO

Desde semana passada o noticiário da imprensa foi tomado pelas manifestações populares no Egito, milhares de pessoas se concentraram todos os dias na Praça Tahrir - "liberdade", em árabe - buscando com sua manifestação a queda da ditadura de 30 anos e a construção de uma democracia no país.

Toda ditadura para sobreviver precisa agredir a liberdade das pessoas, por isso a existência dessas concentrações, apesar de toda tentativa de repressão que aconteceu, tem sido interpretada como uma grande luta por essa necessidade essencial da pessoa: LIBERDADE.

Mas, o que é liberdade?

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda (Cecília Meireles)".

"A liberdade é mais importante do que o pão (Nelson Rodrigues)".

"A liberdade é o oxigênio da alma (Woody Allen)".

"Liberdade é o espaço que a felicidade precisa (Fernando Sabino)".

A liberdade evidentemente é algo que precisamos, ninguém precisa nos dizer. Porém, hoje são muitos os que querem nos dizer o que é e assim dirigir a nossa vida.

Normalmente hoje é entendida como autonomia. Mas autonomia o que é? Que estamos desligados uns dos outros que as minhas ações não têm nada a ver com os outros e as deles não me atingem? Mas isso é verdade, mesmo?

Por isso decidi pelo título porque se Muricy Ramalho não tivesse desistido de ser técnico da seleção brasileira, talvez o Corinthians não tivesse sido eliminado da Libertadores.

Para os que não acompanham futebol faço alguns comentários explicativos: Muricy Ramalho foi convidado para ser técnico da seleção brasileira, não aceitou e permaneceu no Fluminense. Mano Menezes foi convidado no seu lugar e aceitou, deixando o Corinthians. No final do ano o Fluminense foi campeão do campeonato brasileiro de 2010 e o Corinthians terminou em terceiro lugar.

Por causa disso o Corinthians teve que disputar uma fase classificatória da Libertadores (grande sonho do time para 2011) e foi eliminado na semana passada. Talvez isso não tivesse acontecido se Muricy estivesse na seleção e Mano no Corinthians. Sendo assim um corintiano poderá ter pensado: Ah! Se Muricy não tivesse desistido, se a liberdade dele tivesse escolhido outra coisa a minha não teria sido oprimida pela derrota do meu time!

A liberdade nossa não é autônoma, o que eu escolho envolve sempre as pessoas. Eu também não escolho o que quero autonomamente, porque não escolho o que eu sou, nasci assim, “Alguém” escolheu por mim: não escolhi a minha altura e a cor dos meus olhos.

Estes dias estive com dois grandes amigos da época da faculdade. Um deles é mais baixo que eu e tem olhos azuis. Não adiantaria a ele querer a minha altura e os seus olhos azuis. Ou eu ter a minha altura e a cor dos olhos deles.

Ou o que somos nasce de um acaso ou Alguém me quiz? Na primeira hipótese só me resta o lamento, na segunda hipótese tentar entender o que esse Alguém quiz.

Um outro aspecto da liberdade é a sua relação com responsabilidade. Na hipótese do acaso somente me resta o moralismo do dever a ser cumprido. Diante de Alguém a responsabilidade é resposta a ele. Se sou do jeito que sou, a minha liberdade está em responder a esse “projeto” sobre mim de quem me criou: conhecê-lo e amá-lo, a minha felicidade parte daqui, não de um ponto que eu escolho autonomamente.

Assim, liberdade é algo que percebemos como necessária e está em me relacionar com esse Alguém que me quiz.

Na política a democracia é o sistema que as sociedades desenvolveram para que as liberdades fossem respeitadas. Mas sem a relação com esse Alguém não é possível democracia porque não é possível liberdade.

Assim nós do GPC defendemos que nós cristãos ou não, mas que acreditamos nesse Alguém, temos que participar da política e a nossa omissão não é nossa liberdade, porque não estamos respondendo a provocação que na vida nos são colocadas, não somos responsáveis e assim livres.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

RECEITA PARA A FELICIDADE?? NA CIÊNCIA OU NA VIDA?

Na semana passada (27/01) o articulista da Folha de São Paulo Hélio Schwartsman publicou um artigo intitulado receita para a felicidade o qual me inspirou a começar esta reflexão (leia aqui).

No artigo ele parte da constatação de que o ser humano busca a felicidade e que nós não temos a menor idéia de como chegar lá. Em seguida apresenta uma "boa notícia" para nós todos de que, com o auxílio da neurociência e da economia, psicólogos estão conseguindo mapear os problemas. Depois de longas 100 linhas eu não entendi nada. Você poderá lê-lo no endereço acima e tirar a sua opinião.

De fato a busca pela felicidade, expressada das mais diferentes formas, está entre as necessidades básicas de todo ser humano, as quais se juntariam o desejo de amar e ser amado, o desejo de bem, beleza e justiça. Este tema está por traz de todo verdadeiro debate filosófico, o qual tem ocorrido ao longo da história humana.

Mas como chegar lá? Seria muito pretencioso que alguém dissesse qual o caminho, tanto quanto dizer que ninguém tem a menor idéia de como chegar lá. Porque como todas as necessidades da vida a felicidade é vivida como busca, tateando, tentando identificar as pistas do caminho. Por isso eu gostaria de colocar a minha reflexão num âmbito existencial a partir de fatos que tenho refletido neste blog.

Por "coincidência" o tema do evangelho da missa do último domingo foi as bem-aventuranças (que em outras palavras poderia ser traduzido por felicidades). Neste evangelho Cristo diz que são bem-aventurados (felizes) aqueles que são: pobres em espírito, aflitos, mansos, fome e sede de justiça, misericordiosos, puros de coração, perseguidos por causa da justiça e finalmente quem for injuriado e perseguido por causa Dele.

Mas qual o denominador comum entre essas bem-aventuranças? Quem é essa pessoa com todas estas características? Quem O segue, quem é perseguido e injuriado por causa Dele.

Deste modo Cristo está dizendo que a felicidade tem a ver com o modo como vivemos, com as nossas escolhas e opções, com a nossa liberdade. E que para chegarmos a felicidade devemos segui-Lo. Viver como Ele.

Como comentamos semana passada o Amor que recebemos deste Outro é a fonte do amor que vivemos no nosso dia-a-dia e é a fonte de todas as bem-aventuranças que elencamos acima. A Felicidade está na doação de si ao outro, como nos ensinam as experiências humanas mais significativas como o relacionamento de amor entre o homem e a mulher, a amizade entre as pessoas, a paternidade e a maternidade.

Se não há felicidade nesses relacionamentos a experiência aponta que a falta é o amor.

Se não há amor é porque não existe o AMOR do OUTRO que nos sustenta dia-a-dia.

Sem isso recorremos a quem? A ciência? A técnica? Na minha experiência não é assim, a ciência e a técnica tem o seu espaço, mas neste campo da felicidade não. Na minha vida valeram mais as dicas que recebi na experiência do que os conselhos científicos de quem quer que seja.

Se não temos esse olhar para vida como compreenderemos a imensa demonstração de solidariedade humana como comentamos na semana passada, como compreenderemos de onde as pessoas em situação de sofrimento como nas enchentes e nas perdas acontecidas lá, encontraram força para recomeçar!

Se a felicidade não for capaz de responder a esses momentos, que todos passamos de modos diferentes, não será felicidade ou não será para esse mundo.

Somente quem já deu de si é capaz de num momento de sofrimento encontrar forças para recomeçar, porque quem ama recomeça a cada instante, a pessoa que eu amo agora, já é diferente de como era há pouco, digam os amigos, os amantes, os pais e os filhos.

Isso apesar de parecer um assunto longe da política coloca um critério claro para ela. Somente vale a pena fazer a política se for para ser feliz, e não é possível ser feliz também na política e na ação social, quem não é pobre em espírito, misericordioso por causa do AMOR deste OUTRO. Esse Amor se reflete na nossa vida no amor que damos e recebemos em todos relacionamentos que vivemos. Ser político sem amar o que faço, para quem faço não poderá conduzir a um caminho de felicidade.

Uma receita? Certamente não, mas uma luz que nasce da Presença desse Outro na vida de todo aquele que abre a sua porta na hora que Ele bate: como o pobre e o necessitado que vivem ao nosso lado e que são no nosso modo de ver (GPC) a única razão da nossa ação social e política.