Semana passada enquanto vinha para o trabalho fiquei parado no trânsito porque estava passando o cortejo que acompanhava a chegada do corpo do ex vice-presidente José de Alencar em Belo Horizonte. Acompanhei-o até o centro da cidade quando segui em outra direção. Foi impossível não refletir no homem José de Alencar que teve a sua dor exposta a cada internação que ocorria. É impossível não encher-se de compaixão pelo seu sofrimento e não ficar admirado pela atitude humana dele diante da sua doença.
Enquanto seguia o cortejo lia a revista Época num artigo que falava sobre a criação de mais um partido no Brasil, pelo prefeito de São Paulo (ÉPOCA 671, 28 de março de 2011, O partido lagartixa, Diego Escoteguy, pag. 54). Até aí nada de inusitado já são 27, mas o diferente foi a definição da sua ideologia partidária pelo seu mentor, Gilberto Kassab: o PSD não é um partido de direita, nem de esquerda e, pasmem, NEM DE CENTRO (veja).
É algo incompreensível. De fato seria incompreensível se estivéssemos na Europa, mas no Brasil é perfeitamente compreensível, na minha opinião inaceitável, mas compreensível.
MAS AFINAL DE CONTAS, O QUE SÃO OS PARTIDOS BRASILEIROS????
O que tem a ver o enterro do José de Alencar com o partido do Kassab?
O ex-presidente ocupou a mídia com a sua doença porque ele a um certo ponto da sua vida resolveu ser político. Entrou no PMDB e acabou num P qualquer que eu não sei, mas que não faz a menor diferença. Até aí estaria no de sempre, mas o que até hoje considero a grande incoerência dele foi ele ter sido vice do Lula.
Explico o porque. Como pode um dos maiores empresários brasileiros ter se associado a Lula, que é de um partido que se entende como de esquerda no sentido de que de um lado estão os trabalhadores de outro estão os empresários. Um partido que defendia a estatização se unir a um indivíduo que deveria defender a livre inciativa, ou seja, aquilo que está na base da ação empresarial. É INCOMPREENSÍVEL!
Seria incompreensível se estivéssemos na Europa, mas no Brasil é compreensível, não justificável, mas se compreende.
MAS, AFINAL DE CONTAS PARA QUE SERVEM OS PARTIDOS NO BRASIL?
Tem um grande amigo meu que defende a ausência de partidos por compreender que eles não servem para nada de bom. Olha que esse meu amigo é uma pessoa que dedicou a sua vida aos pobres e procurou contribuir para que buscassem cada dia mais, melhores condições.
Nunca aceitei essa sua proposta, por mais respeito que tenha por ele, mas não sabendo responder para que servem os partidos brasileiros, até que sou tentado a dar razão.
Tanto um partido que não é de direita, nem de esquerda, muito menos de centro, porque a única razão da sua existência são as pretensões do seu DONO, quanto um partido que se diz de esquerda e que muitas vezes se comporta como tal porque seu foco principal em muitas situações é construir UM ESTADO QUE PRETENDE DOMINAR A VIDA NÃO SOMENTE NO CAMPO ECONÔMICO (como no caso do pré-sal) MAS EM TODOS OS ASPECTOS (como no caso da proposta do plano nacional de direitos humanos) e que se une a um empresário são compreensíveis porque estamos no Brasil.
Mas isso tem duas implicações muito sérias para nós os brasileiros:
Mas isso tem duas implicações muito sérias para nós os brasileiros:
1) Que PT e PSD no final das contas são a mesma coisa, os 27 partidos no final das contas são a mesma coisa, só muda quem é o chefe do momento. E depois queremos que a nossa população saiba votar. Como nessa geléia geral?
2) Que no Brasil em política tudo pode, tudo se explica, porque afinal das contas é aqui mesmo.
Não podemos deixar que isso que é verdade para os Kassabs da vida, se torne a nossa verdade, o certo.
Está errado e chegou a hora de dizermos que aqui NÃO PODE PORQUE AQUI É O BRASIL E NÓS BRASILEIROS SOMOS UM POVO SÉRIO.
Como comentei outras vezes aqui no meu blog, os exemplos ensinam mais que mil palavras (leia), por isso temos de nos posicionarmos de tal forma que uma coisa que é incompreensível fique como incompreensível, que uma coisa que é errada na vida, como quando mentimos, seja de fato ERRADA, mesmo que seja na política.
Se não mantivermos essa coerência entre o que penso e faço, entre o que penso e faço na vida privada ou pública, estaremos deseducando os nossos jovens e levando-os a descrer no valor de sua participação social e política como cidadãos.
AFINAL DE CONTAS O QUE ESTAMOS ENSINANDO AOS NOSSOS JOVENS COM OS PARTIDOS POLÍTICOS QUE ESTÃO AÍ?
QUE TIPO DE PESSOA SERÁ FORMADA COM ESSA VIDA POLÍTICA QUE ESTÁ AÍ (leia)?
Aí seremos obrigados a concluir que nossos partidos só servem para deseducar e que de fato seria melhor que não existissem, mas se não existirem como fazer política e construir uma democracia de verdade?
QUEREMOS PARTIDOS QUE TENHAM SENTIDO DE EXISTIR PORQUE EXISTEM PARA CONTRIBUIR PARA UM BRASIL MELHOR PARA OS BRASILEIROS.
Um comentário:
Dr Benedito
Durante um bom tempo, fui militante de um partido socialista, o PSB. Hoje não penso em estar em qualquer fileira, pois constatei a triste verdade de que fala o seu texto: não há coerência entre a ideologia e a prática dos partidos políticos. Mas, o que fazer? Será que, após os sessenta anos, ainda vou ver dias melhores?
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